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Sempre que penso como é que nasce a ideia de um romance na minha cabeça, preciso de respirar fundo e viajar para dentro, porque as ideias podem estar guardadas no baú da memória há mais tempo do que eu mesma me lembro. É o caso de "Os Milagres Acontecem Devagar" que chegou há duas semanas ás livrarias de todo o país.
A história começou a germinar na minha cabeça como uma semente quando uma amiga terapeuta comentou num jantar de mulheres que tinha dois pacientes envolvidos num romance e não sabiam que eram ambos a consultavam. A vida está cheia de coincidências, ou então, como digo há muito anos, não há coincidências. Aquela ideia não mais me saiu da cabeça. Depois pedi a dois amigos homens e duas amigas mulheres que me emprestassem algumas das suas histórias pessoais, juntei as masculinas num só personagem e reciclei as femininas em duas mulheres. E assim nasceu o triângulo amoroso formado por Maria do Mar, Henrique e Catarina.
Quem se divertiu com a crónica de costumes que apimentou o "Sei Lá" e "Não Há Coincidências", quem se envolveu com os amores e desamores de "Pessoas Como Nós", vai revisitar a minha escrita mais crítica e mais mundana. E quem se deixou levar pela nostalgia das cartas de amor como "Diário da Tua Ausência" ou "O Dia em que Te Esqueci", vai regressar a esse tipo de emoção mais profunda e intimista. Os meus personagens são fortes na sua vida do dia-a-dia, mas quando se sentam na cadeira do terapeuta deixam cair as suas defesas e permitem-se ser eles mesmos.
Escrever é antes de mais um acto libertador. Quando um escritor começa um livro, inicia uma viagem com um fim mais ou menos definido, mas em momento algum se sente tão livre como quando começa a navegar na sua imaginação. São meses de peregrinação interior, enquanto os personagens ganham vida, passado, consistência, corpo, feições e temperatura. Almoçamos, jantamos e dormimos com eles. Fundem-se com a nossa realidade e não nos deixam um minuto. São como uma grande paixão: respiramos sempre melhor se estiver por perto. E a história vai crescendo, devagar, capitulo a capítulo, passo a passo, sonho a sonho, desilusão a desilusão. Às vezes zangamos-nos com os personagens. Outras vezes, zangamos-nos com a vida real e transmutamos a nossa fúria para parágrafos inteiros nas vozes deles. Ou então eles dizem o que mais gostaríamos de ouvir. Mais ou menos a um terço do fim, os livros, que são seres vivos, gostam de nos pregar partidas e trocam-nos as voltas. O meu engasgou-se e tive de o virar do avesso para lhe conseguir retirar a pedra que tinha entalada na garganta. O início de um Verão auspicioso restabeleceu a ordem e voltei a ganhar pulso aos meus personagens, os seus medos e desejos, os seus filhos e os seus amores, a sua vida.
"Os Milagres Acontecem Devagar" é um romance sobre segundas e terceiras oportunidades na vida. Nunca é tarde para acreditar que podemos construir a relação certa com alguém que amamos. Nunca é tarde para voltar a sonhar, para fazer planos. Mas para isso é preciso querer, é preciso saber confiar em nós e saber que podemos confiar no outro. Enquanto houver confiança, fé e esperança, pode haver tudo. Mas se perdemos uma destas pelo caminho o que nos resta fazer?
Às vezes mais vale matar as coisas antes que elas nos matem, porque a vida encarrega-se de repor a ordem e a justiça. E nunca é tarde. Os verdadeiros milagres acontecem, mas precisam de paciência, de amor e de tempo.
Ontem foi mais um dia importante na minha vida com a apresentação de "Os Milagres Acontecem Devagar". Este meu 20º livro, e 11º romance, foi apresentado pelo jornalista e director da SIC Radical, Pedro Boucherie Mendes, numa ocasião que serve igualmente para reencontrar amigos. A minha família, como sempre, não faltou a mais um lançamento que teve lugar num dos hotéis com mais charme de Lisboa, o Hotel do Chiado. Vista linda sobre a cidade, num final de tarde mágico.
Pedro Boucherie Mendes, eu e o melhor editor do mundo, António Lobato Faria.
As amigas de sempre que nunca faltam.
E os amigos também não!
Adoro esta foto do Bernardo Coelho.