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MODO FUNCIONÁRIO DE VIVER - mais uma crónica

16.01.15

 

Há palavras que nos magoam só de as ouvir, não apenas pela fonia triste a desolada, mas sobretudo pelo que significam. Uma delas é descorçoado. Reza o dicionário Universal da Língua Portuguesa da Texto Editora que me acompanha desde a faculdade que descorçoar é um verbo que significa desanimar, desalentar.

Enquanto procurava a palavra, quis o destino que tropeçasse em duas outras: devesa, que significa coutada, alameda que delimita um terreno, mata cercada, quinta murada e ainda devastar, que quer dizer assolar, arruinar, destruir, despovoar, tornar deserto. E quando dei por mim tinha três palavras tristes que podiam estar todas relacionadas, porque quem vive descorçoado – o que na minha cabeça significa sem coração ou com o coração desligado da ficha que o liga ao resto das emoções, não sendo portanto mais do que um músculo escravizado pelo dever de bater para manter a máquina em funcionamento, - é por estas razões muitas vezes obrigado a viver numa devesa para que ninguém invada o seu frágil equilíbrio, e se alguém porventura tentar entrar, corre o risco de ser devastado sem retorno possível.

Uma alma descorçoada é uma alma triste, devastada pela sua solidão. Existem vários tipos de solidão; eu pensava que a pior de todas era não ter a companhia daqueles que mais amamos, mas com o tempo percebi que é não desejar a companhia daqueles que nos podem quebrar as defesas e alterar o que acreditamos ser a nossa paz e o nosso equilíbrio. Uma alma descorçoada é uma alma que renuncia aquilo que sente, que escolhe o caminho de não se expor, de não se entregar, de não se deixar ir. Olho em meu redor e vejo cada vez mais pessoas que tomaram por certo e seguro esse trilho, como se o mundo não fosse um lugar em permanente mudança e cheio de caminhos e de alternativas.

Queira Deus e a minha fé teimosa e optimista na condição humana – quanto mais não seja na minha condição – que não me cruze com pessoas que funcionam assim. Ou se tal azar me acontecer, que o meu alarme interno de sobrevivência comece a apitar como se uma avalanche ameaçasse soterrar-me com frio e gelo e o silêncio sepulcral que precedem e sucedem a morte de qualquer coisa, dentro ou fora de nós.

Sempre que o ano finda, é quase inevitável o balanço daquilo que correu bem e mal. A quem faltou saúde, desejam recupera-la, a quem faltou dinheiro, lutam para encontrar um modo de viver melhor, a quem faltou companhia, o sonho de a encontrar.

Para todos os estados consigo imaginar uma vontade, mas para as almas descorçoadas, que teimam em viver atrás de muros que julgam inexpugnáveis, para aqueles para quem o amor ocupa pouco lugar porque distrai da ambição, do dever e do trabalho, para todos aqueles que preferem uma existência omissa, não me ocorre nenhum desejo. De facto, ninguém é perfeito nem nenhum Deus nos ensina onde reside a felicidade. Cada um vive-a como sabe e pode, mas arrisco-me a dizer que estas almas não procuram nada mais do que a virgula maníaca do modo funcionário de viver, do qual o Alexandre o’Neill que era maluco mas não era parvo, nem tão pouco descorçoado, falava.

Eu acredito que a única forma de viver reside na crença profunda de um amor sem medo de nada. Quem tem medo não consegue dar, nem receber. Na verdade, quem tem medo, quase nunca consegue deixar de o ter. E é essa a sua maior tragédia.

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MINI-CARTILHA PARA LIDAR COM HOMENS COMPLICADOS

12.01.15

 

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Quem diz que os homens não são complicados, não sabe o que diz. É verdade que não são todos os dias como nós, mas quando ligam o complicómetro é o caos: começam a construir muros a pôr entraves, a encher-se de dúvidas e torna-se muito difícil dar-lhes a volta. Muitas vezes o melhor é deixar cair, atirar a toalha para ao chão e não perder tempo a tentar desfazer os nós, porque a cada um os seu nós, que é como quem diz, resolve tu os teus problemas porque eu também tenho os meus e além disso quem não se entende a si mesmo, nunca entenderá o outro nem o mundo.

 

Ainda assim, e já que estamos no início do ano, decidi, a bem da comunidade feminina elaborar uma mini-cartilha para lidar com homens complicados que espero vir a ser útil a muitas mulheres, que, tal como eu, o que querem é ser felizes.

 

A saber:

 

 

  1. Nunca lhe diga que gosta muito dele. Pode e deve elogiá-lo, mimá-lo com pequenos gestos, mostrar-lhe que se preocupa, mas nada de grandes declarações verbais, nem faladas nem escritas. Vai logo pensar que quer casar com ele no próximo fim-de-semana, ter imensos filhos e um casal de Leões da Rodésia para fazer criação.

 

  1. Não lhe cobre os dias de silêncio, de ausência, de falta de vontade para falar consigo. Os rapazes complicados trabalham muito e por isso de manhã não têm tempo, à hora do almoço também não (a maior parte das vezes nem almoçam) e quando chegam a casa à noite estão tão cansados que só querem desligar. E desligar não é ligar-lhe a si. O facto de não telefonar a meio da manhã nem responder aos seus SMS não quer dizer que não pense em si. Claro que pensa e por isso vai-lhe telefonar em breve, mas é quando tiver tempo e cabeça para isso.

 

  1. Nunca lhe diga que gosta dele de qualquer maneira, mesmo que ele esteja a ficar careca ou com um bocadinho de barriga. Ele gosta de pensar que aos seus olhos é perfeito e um bocadinho de barriga para nós, pode ser uma barriga grande para ele, e uma grande barriga pode representar um grande problema. Em vez da barriga, fale-lhe de todas as coisas boas que ele tem: umas mãos lindas, os olhos mais meiguinhos do mundo, o cheiro a bebé, a cara de Deus grego, as mãos de Príncipe, etc.. Ele sabe que é verdade, mas fica reconhecido de você também saber. Além disso, um bocadinho de barriga não mata ninguém.

 

  1. Nunca, em circunstância alguma, lhe proponha fazer uma viagem longa, tipo apanhar o transiberiano de Moscovo à China. Embora seja apenas uma ideia e até a tenha planeado fazer com mais amigos em comum que a convidaram, ele vai imaginar que você já está a pensar numa lua-de-mel, o que na cabeça dele significa que você está à espera que ela a peça mais ou menos em casamento, fazendo-o entrar em pânico. E quando eles entram em pânico, convencem-se que estamos a conspirar contra eles, enrolam-se numa espiral e a confusão está lançada.  OS HOMENS GOSTAM DE VIVER O MOMENTO. SE OS PUSER A PENSAR NO FUTURO, ELES ASSUSTAM-SE

 

  1. Se sentir que ele é mesmo muito complicado e que, apesar de gostarem a sério um do outro ele nunca baixa as defesas, talvez tenha chegado o momento de desistir. É provável que ele seja um bocadinho fóbico por natureza e, nesse caso, por mais descontraída e cool que você seja, ele vai sempre complicar tudo. Vai chegar o dia em que você vai pensar: vale mesmo a pena viver uma relação com uma pessoa assim?

 

É provável que ao fim de seis meses ou um ano chegue à conclusão que não vale o esforço. O problema está nele e não em si. Vire a página e passe à fase seguinte: faça o luto durante o tempo que for necessário e depois siga a marinha. Rei morto, Rei posto, nunca páre na pista e nunca se esqueça, a fila anda. Com sol ou chuva, frio ou calor, quer queiramos, quer não, anda sempre. E para a frente é que é o caminho.

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Caras e Flash

26.11.14

Na semana passada fiz duas produções fotográficas a propósito do lançamento de "Os Milagres Acontecem Devagar". A Flash e a Caras são duas publicações de referência com as quais gosto sempre de estar. Ficam as fotos. 

 

CARAS

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 FLASH

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