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Muros & pontes, ou A Arte de Fazer as Pazes

05.03.15

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O orgulho é o grande inimigo da paz. Quantas vezes não reprimimos uma mensagem, um telefonema, um gesto, por não querer dar o braço a torcer? Citando Camus, abençoados os corações que se vergam, pois nunca serão partidos

Quando nos zangamos com alguém de quem gostamos, o passo seguinte é fazer as pazes.

Durante muitos anos não entendia a expressão no plural, porque cresci a ouvir falar de paz no singular: vai em paz, estou em paz, o prémio Nobel da Paz, acordos de paz entre os povos. Mas para que a paz regresse, é preciso que todas as partes envolvidas assim o queiram. Infelizmente ninguém constrói uma ponte sozinho: são precisos pelo menos dois pares de mãos para a erguer. E tempo. E vontade. E paciência. E tolerância. E mais tempo.

Para fazer as pazes é preciso antes de mais estar em paz. Ou, ainda que alguns demónios nos atormentem, acreditar que a paz é o único caminho. Mesmo quando as zangas são inevitáveis e temos fundamentos para a zanga. O importante nem sequer é mostrar ao outro que temos razão, mas tentar que ele entenda o nosso ponto de vista. Mostrar-lhe que nos magoou ou nos tratou mal, ainda que nem sempre o faça propositadamente. O que não vale mesmo a pena é alimentar a zanga, porque a zanga só é útil naquele momento. É como uma rajada de vento: varre as folhas mortas e arrebita as vivas.

O difícil é dar o primeiro passo. Ficar à espera que o outro ceda nem sempre resulta. O outro pode não saber como, pode nem sequer querer um entendimento. Ou pode desejar que a zanga passe, mas não saber como resolver.

Fazer as pazes dá trabalho, requer humildade e amor-próprio. Não tem nada a ver com pedir desculpa ou humilhar-se. Dizer a alguém embora lá beber um café ou dar um passeio a beira do rio porque quero ficar em paz contigo é o mesmo que dizer, eu gosto de ti com os defeitos que me irritam e aceito o que tu queres para nós, mas isso já não me magoa, porque quero o melhor para ti e para mim. E para mim, estar em paz é importante.

O orgulho é o grande inimigo da paz. Quantas vezes não reprimimos uma mensagem, um telefonema, um gesto, por não querer dar o braço a torcer? Citando Camus, abençoados os corações que se vergam, pois nunca serão partidos. Um coração magoado pode recuperar as forças com um pouco de paz.

Um coração que não aceita fazer as pazes, das duas uma: ou já está partido há muito tempo, ou já não está lá para nós. E nestes casos, o melhor é encolher os ombros e dizer ao outro eu tentei. Porque afinal, a longo prazo, o que mais custa na vida é olhar para trás e perceber que não tentámos nada pelo outro e por nós. Essa é a grande tristeza, não tentar. O Muro de Berlim foi construído numa madrugada e demorou quase 30 anos a cair, mas quando caíu, já toda a gente sabia que a sua queda era inevitável. E ainda bem.

 

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