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Depois de alguns dias de férias do outro lado do Atlântico, chego a Portugal e deparo-me com uma página dupla na Revista Sábado cujo título é: 'Acredita que estas meninas vão fazer 50 anos?'
Ao meu lado tenho a actriz e produtora Sarah Jessica Parker, a Princesa Stéphanie de Mónaco e a modelo Linda Envangelista. O testo é simpático e de certa forma elogioso. O que me irritou é que todas aparecemos de corpo inteiro enquanto alguma rapaziada seleccionada se limita a ser mostrada com a sua cara: Ben Stiller, Charlie Sheen, Robert Downey Jr. Não gosto particularmente da minha foto: o vestido dourado de lantejoulas justo e curto marca-me as curvas.Foi escolha da produção e fez uma capa da Sábado há cerca de um ano, quando estreou o Sei Lá. A revista queria pôr-me bomba e eu deixei. Mas agora, quando me vi no meio de outras mulheres elegantes - excepção à Stépnhie, que parece fazer gala em não se cuidar - fiquei a matutar: mas afinal o que importa se vou fazer 40 ou 50 anos?
A idade é importante para quem? Para as mulheres? Para os homens? Para os Media? Para ao sociedade?
Para mim a idade só faz sentido se for acompanhada de outra palavra, maturidade. Não me sinto a envelhecer, sinto que os anos me foram amadurecendo enquanto mãe, enquanto escritora, enquanto mulher. Mas nem sempre é esse o sentimento que prevalece. Por vezes o meu coração ainda bate como se estivesse a viver o primeiro amor; ainda chapinho nas poças de agua na maré baixa, ainda fico acordada com insónias a pensar em quem gosto, ainda me apaixono 'de caixão à cova' como se diz em bom português. Continuo a gostar das coisas mais simples da vida: m bom passeio, um gelado na praia, um abraço quentinho, um mimo qualquer. Se alguém me enviar cartões com ursos, não acho ridículo, acho amoroso. Um dia um amigo próximo disse-me: tu falas e ris como uma miúda, és uma miúda, só que com mais idade.
O tempo que separa as fotografias que publiquei é longo. Mais de 40 anos. Mas sinto-me igual a mim, tanto numa como noutra. A questão nem sequer passa em querer parecer mais nova, porque na verdade não sinto que idade tenho, nunca penso nisso. Há dias em que me sinto com 28 anos, outros com 35, outros com 19. Há dias em que percebo que a idade me ensinou a parar, a ter calma, a ser ponderada. E outros em que percebo que nunca mudei naquilo que é mais forte em mim: o optimismo inabalável, o romantismo incurável, a curiosidade insaciável, a capacidade de me encantar e de esperar sempre o melhor dos outros.
Idade, qual idade? Tenho a idade que me apetece ter e ninguém tem nada a ver com isso. O Ney Matogrosso tem 74 anos de idade e continua a ser um animal de palco e um dos homens mais bonitos, distintos e com mais charme que já conheci. Há pessoas que não têm idade. Espero ser uma delas :)