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ENTERRAR A TRISTEZA

23.02.15

a vida é breve mas nela cabe - saramago.jpg

 

 

A única coisa que vale a pena enterrar na vida é a tristeza. Nem os mortos merecem tal sorte. Mais vale ser cremado, libertar a alma do corpo e deixar que os vivos nos preservem em boa memória.

Enterrar o passado também não serve para nada; ele faz parte de nós, molda-nos de uma forma ou de outra. Enterrar simbolicamente aqueles que amámos e que por uma razão ou outra já não fazem parte da nossa vida é matar o que vivemos com eles, e se o que vivemos com eles foi bom, então há que saber guardar o melhor com um sorriso e um abraço fraterno e protector de quem quer sempre o melhor do mundo a quem já amou.

Um grande amor não se enterra; processa-se, digere-se, aceita-se a vida como ela é o tempo encarrega-se do resto. Podemos até esquecer um dia o quanto amámos aquela pessoa, mas se tentarmos enterra-la no nosso coração, quem vai parar ao lodo é o coração inteirinho e depois é o cabo dos trabalhos tira-lo de lá.

Enterrar e tristeza vale sempre a pena, porque a tristeza torna-nos pessoas egoístas e diminui a nossa empatia para com os outros. Faz parte da perda, mas é preciso não lhe dar confiança. Quando um amor acaba, não vale a pena velar o defunto de corpo ausente porque ele já lá não está. Escolheu outra vida e isso, a longo prazo, pode vir a revelar-se uma sorte para nós. É preciso saber preservar o que de melhor vivemos com o outro, tudo o que aprendemos com ele e sobre nós, porque aprende-se sempre, o que é preciso é ter humildade para aceitar o que fizemos de errado em vez de apontar o dedo ao outro.

Quem escolhe a zanga e quer à força enterrar o que viveu, pode acabar por apanhar um susto quando vir uma mão morta a sair do caixão,

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HOJE ACORDEI A PENSAR - TEMOS A IDADE QUE ESCOLHEMOS

11.02.15

maggie 3 anos quinta da varzea.JPGJCF_1917.jpg

 

Depois de alguns dias de férias do outro lado do Atlântico, chego a Portugal e deparo-me com uma página dupla na Revista Sábado cujo título é:  'Acredita que estas meninas vão fazer 50 anos?'

Ao meu lado tenho a actriz e produtora Sarah Jessica Parker, a Princesa Stéphanie de Mónaco e a modelo Linda Envangelista. O testo é simpático e de certa forma elogioso. O que me irritou é que todas aparecemos de corpo inteiro enquanto alguma rapaziada seleccionada se limita a ser mostrada com a sua cara: Ben Stiller, Charlie Sheen, Robert Downey Jr. Não gosto particularmente da minha foto: o vestido dourado de lantejoulas justo e curto marca-me as curvas.Foi escolha da produção e fez uma capa da Sábado há cerca de um ano, quando estreou o Sei Lá. A revista queria pôr-me bomba e eu deixei. Mas agora, quando me vi no meio de outras mulheres elegantes - excepção à Stépnhie, que parece fazer gala em não se cuidar - fiquei a matutar: mas afinal o que importa se vou fazer 40 ou 50 anos?

A idade é importante para quem? Para as mulheres? Para os homens? Para os Media? Para ao sociedade?

Para mim a idade só faz sentido se for acompanhada de outra palavra, maturidade. Não me sinto a envelhecer, sinto que os anos me foram amadurecendo enquanto mãe, enquanto escritora, enquanto mulher. Mas nem sempre é esse o sentimento que prevalece. Por vezes o meu coração ainda bate como se estivesse a viver o primeiro amor; ainda chapinho nas poças de agua na maré baixa, ainda fico acordada com insónias a pensar em quem gosto, ainda me apaixono 'de caixão à cova' como se diz em bom português. Continuo a gostar das coisas mais simples da vida: m bom passeio, um gelado na praia, um abraço quentinho, um mimo qualquer. Se alguém me enviar cartões com ursos, não acho ridículo, acho amoroso. Um dia um amigo próximo disse-me: tu falas e ris como uma miúda, és uma miúda, só que com mais idade.

O tempo que separa as fotografias que publiquei é longo. Mais de 40 anos. Mas sinto-me igual a mim, tanto numa como noutra. A questão nem sequer passa em querer parecer mais nova, porque na verdade não sinto que idade tenho, nunca penso nisso. Há dias em que me sinto com 28 anos, outros com 35, outros com 19. Há dias em que percebo que a idade me ensinou a parar, a ter calma, a ser ponderada. E outros em que percebo que nunca mudei naquilo que é mais forte em mim: o optimismo inabalável, o romantismo incurável, a curiosidade insaciável, a capacidade de me encantar e de esperar sempre o melhor dos outros.

Idade, qual idade? Tenho a idade que me apetece ter e ninguém tem nada a ver com isso. O Ney Matogrosso tem 74 anos de idade e continua a ser um animal de palco e um dos homens mais bonitos, distintos e com mais charme que já conheci. Há pessoas que não têm idade. Espero ser uma delas :)

 

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HOJE ACORDEI A PENSAR, SEM CORAÇÃO NAO HÁ CARÁCTER

04.02.15

é o coração que faz o caracter.jpg

 

A frase é do Eça de Queiroz, mas agora é do mundo, pela sabedoria que encerra. O coração, esse músculo que nunca pára onde gostamos de pensar que vivem os nossos sentimentos, não é só o símbolo da vida, também representa quem somos e como somos para os outros.

É comum dizer-se que um homem ou uma mulher sem carácter não vale nada. Eu vou mais longe. Se não usarem o coração, também de pouco valem. O Coração nem sempre deve prevalecer, por vezes a razão ganha-lhe. Mas acredito que quem não o ouve porque NÃO O QUER OUVIR, perde o melhor da vida, seja mais ou menos romântico, ou mais ou menos pragmático.

Sem coração não há carácter que chegue para fazer os outros felizes. Tenho dito .

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Da Minnha Amizade com o António Alçada baptista

03.02.15

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AMIZADES CASTAS, AMORES PROFUNDOS

 

Se eu fosse um objecto era objectivo, como sou um sujeito, sou subjectivo. Era uma das frases preferidas meu querido e saudoso amigo António Alçada Baptista (1927-2008), ensaísta, escritor, cronista, apresentador de programas de programas de televisão, mas sobretudo um grande amigo do coração que me fez descobrir nada mais do que o Hemingway, o Graham Green e o Steinbeck.

 

O António era dez anos mais velho do que os meus pais e foi o primeiro adulto que me disse, trata-me por tu, miúda, porque no fundo temos a mesma idade. E tivemos, até ele se cansar da vida. Passávamos a vida de braço dado a passear por Lisboa, à conversa como dois caturras e a descobrir tascas baratas e boas de petiscos. Uma vez, o António levou-me a uma recepção no Palácio de Belém quando o Mário Soares era Presidente da República e, perante o olhar atónito dos conhecidos com quem nos cruzávamos, percebi nele uma malícia sem maldade ao levar-me orgulhosamente pelo braço, disse-lhe ou ouvido: se eles pensam que sou tua namorada, diz-lhes que sim, e vamos gozar o prato. E claro que gozámos o prato todo o serão e acabámos a noite numa tasca do Bairro Alto a rir do embuste: naquela noite devemos ter enganado mais de 100 pessoas.

 

A nossa amizade era tão íntima quanto casta, como, mais tarde aprendi ser uma regra de ouro na amizade entre diferentes sexos: é quando nem um beijo na boca foi trocado, que se conta tudo ao outro, sem filtros nem eufemismos. Uma amizade destas é de um amor profundo.

 

O António era viajado e aventureiro, contava-me as patifarias dele e do Jorge Amado e eu, dada a paixões intensas, partilhava os meus sonhos e as minhas angústias. A menina é um bicho que vai dar muito dôr de cabeça à rapaziada porque pensa bem e depressa e não tem medo de nada. Eu gostava que ele me chamasse bicho porque era a forma mais carinhosa que o António tinha de tratar as mulheres. Mas gostava ainda mais quando ele dizia que eu não era um bicho qualquer, mas um que iria dar trabalho aos homens.

Eu gosto de dar trabalho aos homens porque gostar de um homem a sério dá imenso trabalho. É preciso ouvi-lo, saber ler nas entrelinhas, dar-lhe espaço, aprender a conhece-lo sem que ele se assuste. É preciso ir-me adaptando, ser paciente, aprender a perceber o que é importante para ele, o que o faz feliz, o que o deixa seguro e o que mais o irrita. Usando mais uma expressão do António, é preciso conhecer o bicho. Só que um homem é sempre um bicho muito diferente de qualquer mulher e por isso mesmo estranho, por mais atraente que seja. É como se funcionasse noutro sistema operativo, mesmo que desde o primeiro encontro ele nos pareça próximo e familiar. Cuidado com as aproximações meteóricas, redundam quase sempre em colisões catastróficas. Uma pessoa até pode ter sete vidas como um gato, mas se elas não matam, é certo que moem.

Eu adorava ser objectiva, conseguir olhar para um homem e apanhar-lhe as fraquezas antes dos encantos para me poupar a paixões devastadoras e nem sempre com os resultados desejados, mas se eu fosse um objecto era objectiva, como sou um sujeito, sou subjectiva. Já dizia a Yourcenar que a realidade nunca é exacta, pois sobre ela paira sempre o véu do desejo.

Nós vemos no outro aquilo que somos, aquilo que gostaríamos de ser e aquilo que gostaríamos que ele fosse. Às vezes temos sorte e o outro é quase tudo o que imaginámos Mas a sorte é rara, bate à porta poucas vezes na vida. E portanto, quando a ouvimos bater, talvez o melhor seja deixa-la entrar e ver o que nos traz de novo.

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